Índios e não-índios: conflito em Roraima

 A ocupação de áreas da reserva indígena Raposa Serra do Sol por arrozeiros é o principal motivo de polêmica.

Além de índigenas contra “brancos”, podemos notar uma grande rivalidade entre os próprios índios da região. Os arrozeiros defendem seus interesses, apoiados por aliados indígenas, com os quais convivem em parceria, que gera alimentos para os índios. Mas também se tornaram agentes de defesa da integridade territorial e da soberania nacional. Valdísia da Silva, indígena da comunidade Prakuár, criticando os parentes que defendem a expulsão dos arrozeiros da área disse: “Se ficar essa área liberada, ninguém faz nada. Nossos irmãos do CIR (Conselho Indígena de Roraima) só dão dor de cabeça para nós, empatam a pescaria, não querem trabalhar, só querem ficar dormindo e comendo sem fazer nada. Nós não somos mais índios, nós somos aculturados, somos brancos já. A maioria é casada com branco, tem filho branco, marido preto e não sou contra isso. Os arrozeiros ajudam as comunidades da área.”

Já os índios contra a ocupação luta pelos seus direitos de permanência na Área de reserva, que foi demarcada pelo presidente Lula, em 2005, com um território de 17 000 quilômetros quadrados, quase cinco vezes mais do que o previsto inicialmente. Resultado: ela engoliu os brancos que estavam instalados nas bordas do perímetro original. Em sua extensão, há fazendas de arroz que respondem por 6% do PIB de Roraima e abastecem também o Amazonas e o Pará. A reserva abarcou ainda os cânions do Rio Cotingo, apropriados para a construção de uma hidrelétrica considerada essencial pelo governo do estado, e uma região de fazendas ocupada por brancos desde o século XIX.

Hoje, as 32 reservas indígenas que lá foram estabelecidas cobrem 46% do território do estado. Sozinha, Raposa Serra do Sol responde por 7,5% da área do estado. É uma superfície equivalente a doze cidades de São Paulo, mas lá moram apenas 19 000 índios. Ao delimitarem uma reserva desse tamanho, os antropólogos da Funai pressupunham que os índios continuariam vivendo como nômades, da caça e da pesca, a exemplo de seus ancestrais. Mas eles estão totalmente integrados às cidades do entorno. Moram em casas, fazem compras em supermercados e falam português. Muitos esqueceram ou nem sequer aprenderam a língua nativa. Seus filhos freqüentam escolas públicas. Parte deles trabalha em fazendas de brancos, enquanto outros plantam grãos e criam gado por conta própria. Cerca de 6% do rebanho de Roraima pertence aos índios, que abastecem os açougues locais. “O fato de sermos índios não nos impede de ser produtivos”, afirma Dionito de Souza. E, como no mundo dos brancos, quem não tem renda própria ganha bolsa-família.

O conflito ainda aumentou com a ação da Polícia Federal em conjunto com a Força Nacional de Segurança, a Operação Upatakon 3 ( que visa à retirada dos não-índios da reserva ) , que gerou uma violência maior e conseqüentemente vários feridos. Devido a dimensão da “revolta”, fez com que o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior, levasse o caso ao Supremo Tribunal Federal.

Em julho, uma nota saiu na imprensa afirmando um apoio do Papa Bento 16 aos índios dizendo que “faria tudo o que fosse possível” para ajudar a resolver o impasse na demarcação da reserva Raposa Serra do Sol.

Agora, só nos resta esperar a decisão geral de quem vencerá. Os índios e a luta pelo seu “patrimônio” ou os arrozeiros que lutam por um desenvolvimento econômico e alimentar, além de quererem a diminuição da área da reserva, a fim de terem um espaço pra produzirem arroz e soja.

Uma das soluções de discussões como essas é o investimento do governo brasileiro nessas regiões, a fim de que diminua impasse das ONGs internacionais na região.

 

 

“Família Ferreira: além de terem nome cristão, esses macuxis falam português no dia-a-dia, contam com automóvel e fazem compras em supermercado”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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